Zunino garantiu nas rádios que o Avaí não sofreria um desmanche, que o time não perderia mais de dois ou três dos seus maiores pilares. Chegamos a janeiro e
todos os pilares se foram (Silas, Léo Gago, Ferdinando, Marquinhos, Muriqui, Martini, Augusto, William...) e do time titular de 2009 só restaram os alas Eltinho e Luis Ricardo (esse, ao menos, por enquanto) e os zagueiros Rafael e Émerson. Há na blogosfera avaiana quem insiste em dizer que não houve
desmanche, no máximo uma
reformulação. Eu, que não vejo problemas em se usar a palavra “desmanche”, utilizo aqui, com votos de que aquilo que for montado com as peças que sobraram seja algo ainda maior e mais belo do que o Avaí de 2009.
Eufemismos à parte, o fato é que o Avaí de 2010 é um
novo time. Um time que começa com crédito ilimitado devido às recentes conquistas e o torcedor - ainda receoso por desconhecer o novo Avaí – apega-se ao talento de
Moisés Cândido e Luiz Alberto. Demonstraram entender do riscado e agora desfrutam de nossa confiança. O que não sai da cabeça do torcedor é a interrogação: que time é esse?
Em 2009 um site esportivo definiu o time avaiano como um
bando de renegados. Marquinhos, William, Martini, Muriqui, atletas que rodaram por grandes times e não tiveram o brilho que conseguiram no Leão da Ilha. 2010 parece não ser diferente:
Leonardo, Vandinho, Batista, Marcinho Guerreiro, Fredson, Patric... Se em 2009 o Avaí foi
Rocky Balboa, em 2010 o Avaí será
The Expendables (Os Dispensáveis), novo filme de Stallone onde o astro reúne atores veteranos considerados dispensáveis no mercado cinematográfico.
Um símbolo deste novo Avaí será
Sávio, o elo mais fraco do “
Pior ataque do Mundo”, com Sávio, Romário e Edmundo (para os não nascidos ou muito novos na época, procurar no google sobre o Flamengo de meados da década de 90). Nunca fui muito fã de seu futebol. No auge – há mais de uma década atrás – considerava-o um franzino cai-cai no Flamengo. Apagado na Seleção de Zagallo, teve uma
bela passagem pelo Real Madrid e depois caiu no ostracismo.
Tem boleiro que não consegue se enxergar como ex-jogador e perceber que já perdeu a invencível batalha contra o tempo. Júnior Baiano e Sorato continuam jogando, agora no futebol amador. Kuki repensou a aposentadoria e deve disputar a Série B pelo Náutico. Túlio Maravilha quer disputar no mínimo mais um jogo em 2010 para marcar o gol 900 (falta um pelas suas contas). Giovanni vai fazer sombra a Marquinhos no Santos. Rivaldo ainda brilha lá fora. Viola, jogador de showbol, vai para o Brusque.
O zagueiro Márcio Santos se arrastou nos gramados até os 37, jogou até no Joinville. Zinho jogou até os 39, Mauro Silva aos 37, Cafu aos 38. O
Avaí nunca foi de apostar muito em medalhões e, puxando pela memória, qual o medalhão nacional que o Avaí trouxe nos últimos 80 anos? O volante Batista, ex-seleção, que pendurou as chuteiras por aqui? Fossati, ex-seleção uruguaia? Toninho Quintino rodou o Brasil e parou aqui. Jorginho Cantinflas nunca foi exatamente uma estrela, embora bastante conhecido. Os botafoguenses Jorge Luís (zagueiro) e Carlão (goleiro), idem. Será que podemos contar com ex-futuros craques cariocas como Yan e Richardson, ex-Vasco?
Tivemos grandes medalhões, mas que eram conhecidos, sobretudo, em Santa Catarina. Foi o caso de Albeneir, Itá, Roberto Cavalo, Grizzo, grandes craques que aqui chegaram em fim de carreira e puderam demonstrar um pouco do muito que sabiam (exceto Cavalo, que só jogou minutos da final de 1997, mas que teve importante papel extra-campo). Os medalhões que aportaram por aqui eram grandes estrelas, mas de
brilho regional. Logo,
a contratação de Sávio é um marco no Avaí.Mas, que marco será esse? Como será lembrada a
Era Sávio? Sávio será o Edmundo ou o Pedrinho avaiano?
Ressurreição ou mico? Grandes jogadores ultrapassaram Sávio em idade jogando o fino da bola. Petkovic é o exemplo mais recente, mas tivemos Romário que caso se inscreva como jogador pelo Ameriquinha eu ainda o queria no Avaí! Logo, a idade não é tanto o problema, caso Sávio tenha tido os cuidados necessários com seu físico (não que Romário tenha tido, mas Romário é Romário, peixe...). Sávio nunca foi um atleta boêmio ou metido em polêmicas fora de campo, então deve estar bem.
Que Sávio não seja como
Bebeto, ídolo de uma geração, provavelmente um dos 10 maiores atacantes brasileiros dos últimos 20 anos. Bebeto perdeu a batalha contra o tempo e não se via como ex-jogador. Arrastou-se em campo no Japão, no México, no Brasil, pelo Botafogo, Vitória, Vasco da Gama, antes de se aposentar e quase apagar a imagem de atacante genial que tinha até 1994.
Que a
Era Sávio seja uma
Era de vitórias, de voltas por cima, de renascimentos. Que a camisa avaiana de Sávio suma rápido das lojas, que seja um novo ídolo, um atleta inesquecível que ao pendurar as chuteiras deixe seus pés na
Calçada da Fama avaiana. Que se faça bonecos mini-craques de Sávio, que sua foto esteja no pôster do bicampeonato catarinense!
E que time melhor do que o Avaí, o time que faz côsa, o time que renasce quando menos se espera, o time de renegados e dispensáveis que se transformam em leões quando vestem o manto alviceleste para que Sávio retorne às luzes da ribalta? Boa sorte, Sávio! Boa sorte, Avaí!