Postado por: Eduardo Roberge Goedert outubro 21, 2009

Desde a época pré-moderna de nosso país e futebol, alguns absurdos de origem varzeana, como a inconstância nos regulamentos dos Campeonatos Nacionais e as corriqueiras viradas de mesa, parecem ter chegado ao fim com a recente evolução e estruturação do futebol brasileiro. Outros, no entanto, como, por exemplo, a continuidade dos mandatos dos Presidentes das Federações de Futebol, sobreviveram.

No injustamente chamado "país do futebol", muita coisa ainda está de ponta-cabeça. E não existe nada mais absurdo no futebol brasileiro do que a atual divisão das cotas de televisão, tema humildemente abordado neste post.

Inexplicavelmente, o responsável pelas negociações dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro é o Clube dos Treze, entidade privada, que, sabe-se lá o porquê, também tem a competência para distribuir tais recursos aos clubes participantes conforme sua vontade. E é lógico que a vontade desta instituição sempre será favorável aos seus associados, em detrimento dos que não fazem parte do grupo, como o Avaí. Resquícios do amadorismo e política de favorecimentos que sempre imperaram pelas terras tupiniquins...

Segundo breve pesquisa, a distribuição das cotas de TV é feita, atualmente, desta inacreditável forma:

Grupo I: R$21 milhões – Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco*.
Grupo II: R$18 milhões – Santos.
Grupo III: R$15 milhões – Atlético-MG, Botafogo, Cruzeiro, Fluminense, Grêmio e Internacional.
Grupo IV: R$11 milhões – Atlético-PR, Coritiba, Goiás, Portuguesa*, Sport e Vitória,
Grupo VI: Bahia** (R$3,45 milhões) e Guarani** (R$3,3 milhões)
Grupo VI (“Convidados”): R$3,4 milhões - Avaí, Barueri, Náutico e Santo André
* Os clubes favorecidos, caso se encontrem na Série B, colhem 50% dos valores que iriam receber caso na Série A estivessem.
** Bahia e Guarani, por estarem há trocentos anos fora da Elite, recebem menos - mas, ainda sim, curiosamente, mais que o Avaí.


Só pra exemplificar o quão absurda é a divisão: A Portuguesa, clube de nenhuma torcida e habitante do segundo escalão nacional, percebe mais que o Avaí, Barueri, Santo André e, assustadoramente, que o Náutico, clube que está na Série A desde que ascendeu em 2006. E tem mais: O Vasco, na Série B, recebe mais de três vezes o que Avaí, Barueri, Santo André e Náutico recebem. E sem participar do torneio em comento! É de chorar em alemão ou não é?

Neste cenário de absurdez, pergunto-me o que é mais abominável: Uma entidade privada deter o condão de negociar e dividir as cotas de televisão do Campeonato Brasileiro conforme seu torpe almejo, acarretando gritantes injustiças em tal distribuição, ou tais recursos referentes ao televisionamento deste certame irem parar nas mãos de clubes que sequer o desputam?

Ademais, por que diabos o Grupo VI é alcunhado de "Convidados" se os clubes que o compõem são aqueles que adentraram na Elite através da porta da frente?

Na Inglaterra, mais rica e melhor liga futebolística do mundo, a divisão das cotas de televisionamento é realizada assim:
56% do valor é dividido igualitariamente entre todos os clubes.
22% da quantia é baseada na classificação final da temporada anterior do clube. Ou seja, a boa e velha meritocracia, palavra alheia aos dicionários das entidades do futebol brasileiro.
22% do montante é baseado no número de partidas do respectivo clube transmitidas pela TV. Um bom critério pra dar mais àqueles que são mais transmitidos, que valorizam a competição.

Notou a diferença? Isto é justiça e tratamento equânime com todos os participantes do mesmo campeonato, coisa aparentemente impossível de ser levada a efeito por aqui... Se esta fórmula visivelmente mais justa vigorasse por aqui, a título de exemplo, o Avaí perceberia algo em torno de 7,5 milhões de reais.

No Brasil, enquanto a divisão das cotas de televisão for "oligarquizada" desta forma e a censurável política de favorecimentos perdurar, não alcançaremos o equilíbrio que todos gostariam que marcasse o nosso Campeonato. E continuarão se perguntando, mídia e CBF, como se não soubessem a resposta, por que há tão grotesco abismo entre os clubes do país, abismo este que condena os menores clubes à marginalidade do futebol nacional...

E tu, o que achas da divisão de cotas de televisão no Brasil? Dá tua opinião!

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