Manifestação dos Conselheiros
Há 5 anos
Da série "Li, gostei e repasso": Carta a Nelson Rodrigues, escrita por Sérgio da Costa Ramos após o jogaço Avai 3 X 2 Fluminense.
Domingo, 21 de junho de 2009Carta a Nelson RodriguesMeu caro Anjo Pornográfico: Estava escrito há 10 milhões de anos, quarenta minutos antes do Nada, que o Fluminense perderia para o Avaí na Ressacada, aos 48 minutos do segundo tempo, numa intervenção direta do Senhor dos Passos, inconformado com a grave, a cava injustiça que se desenhava em campo: mais um empate sensaborão, mais uma iniquidade do destino.
O azurra jogava como nunca e empatava como sempre. Junto com um maço de Caporal Amarelinho, pito da tua predileção, mando-te o VT do jogo, para que vejas com os teus próprios olhos o passeio que o tricolor tomava no primeiro tempo — e os gols que o meu Avaí perdia no segundo, depois de um empate injusto, estimulado por Sua Senhoria. Sim, tens razão: a arbitragem normal e honesta confere a uma partida um tédio profundo, uma mediocridade irremediável. Só o juiz gatuno, o juiz larápio, dá ao futebol uma dimensão nova e — como dizias — shakespeariana. Pois o Avaí jogava como a Seleção Húngara do Armando Nogueira, deslizando em campo como um cisne de Tchaikovsky.O primeiro gol, de Muriqui, resultou de uma sinfonia bem acabada, uma Nona de Beethoven, uma Sinfonia número 3, de Chopin — sem querer inticar com um dos seus virtuoses, o nosso emérito tricolor Arthur Moreira Lima. Não chorem, caros Nelson e Arthur, lágrimas de esguicho: aquele gol espírita, emanado da canhota de um Gago, não tinha nada a ver com o Sobrenatural de Almeida. Era a pura materialização da espada da justiça sobre a Terra.O Avaí jogava futebol — e bem — o tricolor, fazia cera. Acreditem: até o técnico tetracampeão do mundo, Parreira, foi flagrado retendo a bola à beira do campo, tentando fazer o relógio andar. E se a justiça quisesse impor sua verdade sobre o jogo, os ventos da Ressacada teriam testemunhado um massacre. O placar moral da partida não ficaria por menos de 5 a 2 – tivessem William e Lima consumado gols fáceis, gols que até a “grã-fina de nariz de cadáver” faria, mesmo sem saber “quem é a bola”.Agora sabes, meu caro Anjo, aí das alturas onde cometes o teu voyeurismo: só há uma Squadra Azurra no mundo — e não é a esquadra de Buffon, Gatuso, Cannavaro e Pirlo. A verdadeira azurra, a que faz cosi e tutti quantti, é a azurra de Martini, Muriqui, Marquinhos e Leo Gago. Dirão os idiotas da objetividade, os torcedores anti-celestiais: comemoram o quê, esses azuis? O primeiro lugar da zona do rebaixamento? Pois em verdade vos digo, caro Nelson e amicci rivais: este campeonato brasileiro ainda ouvirá falar de novas epopéias azurras, de novos allegros avaianos, de novos finais intensos e dramáticos, como um Macbeth, um Coriolano, um Julio César, um Otelo, um Hamlet, um Rei Lear — que eu rapidamente adaptaria para Rei Leão.Modificando todos os desfechos, é claro. Daqui para a frente, o Avaí só conhecerá happy ends.
- Copyright © vidAvaí - Skyblue - Powered by Blogger - Designed by Johanes Djogan -