Postado por: Rafael VE junho 14, 2009

Quinta-feira, logo após o treino dos mil, o Felipe soltou um texto que é uma verdadeira jóia, mais uma das tantas do nosso escritor:



É, anteontem foi dia dos namorados e não pude responder decentemente ao caro amigo, e sábado fiz uma trilha que me detonou completamente: mas hoje posso e devo responder a essa indagação.

É um dever responder ao questionamento. Se há algo no mundo que tu deves, invariavelmente, fazer antes de morrer é refletir sobre o que nos faz amar um clube como acontece nessa relação com o Avaí. Talvez seja uma das reflexões mais importantes que até agora eu, por exemplo, já tenha feito na vida.

Não é explicação para somente um fator. Essa "coisa" entre torcedor e clube parece dizer muito do que somos, e talvez faça sentido mesmo pensar assim: parecemos mais propriamente religiosos do que "sócios de uma paixão".


Que se pense em algo que nos fuja à razão, mas que ainda assim nos faça pensar, que nos instigue a raciocinar, depare-se com a religião. Pois não há no mundo quem tenha provado a existência de Deus, e somente aqueles que dizem ter provas suficientes de que realmente o Pai aí está é que enxergam as suas próprias evidências. Ou seja, só crê em Deus Pai quem entende algo que somente os seus comuns conseguem, só ama ao Senhor quem consegue a proeza de acreditar no impalpável. Existe mesmo essa coisa louca que nos força a crer em algo maior, essa vontade inconsciente de que não estamos aqui porque algumas moléculas começaram a se reproduzir ao acaso no caldo primordial.

Sim, nós somos religiosos se compararmos nossa relação com Avaí e a de um crente com a sua Igreja, mas o nosso clube, time, não é uma religião.

Sim, nós temos os "cultos" de todo domingo. Nós berramos pela glória dele. Nós o saudamos no início da "cerimônia" e no decorrer dela. Nós ostentamos o seu poder pelos quatro cantos da cidade e tentamos converter os incrédulos do lado negro da força para que tenham consciência sobre aquele a que veneramos.

Sím, somos de todas as classes sociais. Sim, em parte a nossa existência desafia o tempo: a cidade inteira está mudando ou já mudou mesmo: nós é que ainda estamos tentando adaptação à modernidade - e passamos dificuldades por isso. Usar o nosso manto é um ato de resistência, como bem disse o Felipe certa vez. Talvez nós representemos mesmo uma parcela do povo de Florianópolis - e o nosso folclore é parte dessa cidade também -, pode ser essa mesma a explicação, nós gostamos de nós mesmos, gostamos da torcida - o Fernando também já havia chegado a esta conclusão.

Só que isso tudo não me convenceu. Tem algo mais. Se não somos uma religião em todos os termos, mas carregamos tanto do que é uma, então deve haver algo maior em que acreditamos - mas só dos nossos sentem isso.

Como li no Avaixonados, um comentário de Alexandre Carlos Aguiar constata a realidade: nós praticamente moramos na Ressacada. Qualquer motivo nos faz querer ficar mais perto da nossa casa, do nosso templo do futebol. Dificilmente eu conseguirei explicar isso, que algum pensador se pronuncie sobre, por favor. É difícil imaginar porque tantos deixam de estar na presença de família, namorada, compromissos formais, só para passar o dia no Carianos.

É motivo de orgulho esse algo que nos faz melhores: o modo como lidamos com o nosso templo e com o nosso time. Temos aquela mania até irracional, fanática (comparada ao modo religioso mesmo), de defender o Avaí sempre, de nunca rebaixá-lo perante nada enquanto ele nos orgulhar com o que valorizamos mais.

O time pode estar perdendo de 3 a 0, mas se conseguirmos ver raça nos jogadores durante os 90 minutos ele têm a certeza de que se não sairão aplaudidos de campo - o que não seria difícil presenciar, exceto pelo fato de que faz tempo que não perdemos de tanto dentro de casa - serão pelo menos compreendidos. O que nos faz apoiar sempre não são os resultados, afinal. Nós só queremos um time que lute, que lute até as últimas forças, que faça de cada jogo uma decisão - afinal cada jogo representa um pouco da existência de um avaiano.

O que me levou até o treino de quinta-feira, enfim, foi a combinação disso tudo - e eu nem sabia.

Foi querer estar na Ressacada, sentir a energia que só aquele lugar tem, o calor que só o avaiano parece ter. Demonstrar reconhecimento aos jogadores e à comissão técnica, em especial ao Silas, por tudo que nos têm feito - mesmo sem termos vencido na Série A ainda.
Dizer, sem precisar de uma palavra sequer, que quando os resultados não aparecem, mas o time honra a camisa, a torcida não o abandona.

De maneira alguma lhes quis puxar as orelhas, mas mostrar que eu estou ali, que poderia estar em qualquer lugar num feriado nacional, mas preferi ir ao treino naquela tarde fria, com vento ainda mais gélido, porque aquilo é parte do que sou, porque a minha vida é Avaí - e eu quero vivê-la intensamente.


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