No país que se julga a terra do futebol bem jogado, da habilidade, do malabarismo com a bola, qualquer jogador que demonstre inaptidão ao drible ou escancare seu desapuro técnico tende à rejeição dos amantes do jogo. Difícil se ver uma torcida brasileira se rendendo aos joões caneludos, de cintura-dura, de pouco rebolado.
Paulo César tinha tudo para sofrer a antipatia dos avaianos. Além de responsável por substituir o ídolo Jacaré, era grandalhão, desengonçado e possuía limitados recursos técnicos. Sob a atual crítica desmedida da torcida avaiana, certamente sucumbiria em sua primeira matada de tornozelo. O destino, no entanto, deu-se ao capricho de nos reservar esse letal centroavante em épocas mais remotas, para que fosse capaz de iniciar nossa arrancada rumo ao topo. PC mostrou, aos amásios do futebol-arte, que, para ser um verdadeiro camisa nove, a habilidade é dispensável: o que vale, afinal, é o poder de decisão.
PC, exímio cabeceador, tinha como fiel escudeiro não o parceiro de ataque, mas o distante lateral-direito. Formando uma verdadeira dupla com Edinho, Paulo César encontrava neste sua cara-metade: afinal, o lateral era capaz de lhe servir com cruzamentos cirurgicamente precisos, fosse em escanteios, faltas ou com a bola rolando.
Paulo César e Edinho constituíam um binômio tão letal que não se sabe dizer, até hoje, se um consagrou o outro, se o outro consagrou o um, ou, ainda, se simplesmente formavam uma combinação simbiótica de talentos que, um sem o outro, não seriam nada, mas que, juntos, completavam-se, aptos a, de forma automática, produzir tentos e mais tentos a favor do Avaí, em sua caminhada vitoriosa de 1998.
Se o sobrenome de Edinho era Assistência, o de Paulo César era Decisão. Com seus treze gols na Série C de 1998, todos com apenas um toque na bola, construiu placares, ampliou vantagens, decidiu partidas nos últimos segundos, viabilizando uma das conquistas mais importantes de nossos quase 100 anos. Assim, PC, o homem que sempre estava no lugar certo e na hora certa, assinou seu nome na história do Avaí como um dos maiores matadores de sua existência.
Fiquemos de pé, avaianos! Saudemos o grande Paulo César, artilheiro dos gols horripilantes!