Fui pesquisar sobre o volante Ferrugem, que foi cogitado como contratação do Avaí ontem, na rádio Guarujá. O texto abaixo é de Frederico Lira ao site
Olheiros.net em 2009.
Ferrugem - O capitão dos brucutus
Em artigo recente, publicado no último dia 4 de dezembro na Folha de São Paulo, o mestre Tostão, ao formular sua seleção ideal do Campeonato Brasileiro de 2008, abordou a importância, no futebol moderno, dos volantes técnicos, com capacidade de defender, armar o jogo e atacar com eficiência. Referiu-se a eles, inclusive, como verdadeiros “armadores”, ao invés de puramente volantes, dando ênfase à multiplicidade de funções que exercem dentro de campo.
Dentre os armadores que atuam no futebol brasileiro, o mais completo é, provavelmente, o são-paulino Hernanes – eleito por Tostão o craque da última edição da Série A. Ramires, do Cruzeiro, e Rafael Carioca, do Grêmio, são, também, bons exemplos dessa “espécie”, que, felizmente, parece surgir como uma tendência para os próximos anos. Chega de volantes brucutus!
Se, contudo, hoje o futebol exige tais características de seus cabeças-de-área, o mesmo não ocorria dez anos atrás, quando surgia no Palmeiras um promissor atleta, conhecido por Rodrigo Ferrugem. Dotado de um bom porte físico, muita raça e liderança dentro de campo, Ferrugem, apesar da mediocridade técnica, aparentava, nos final dos anos 90, ser um nome emergente na posição, capaz de atuar em alto nível – e até chegar à seleção brasileira. O atleta promissor, contudo, teve vida curta no círculo de grandes clubes do país.
Início no Verdão
Oriundo de São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo, Rodrigo Ferrugem ingressou nas divisões básicas do Verdão em 1993, quando tinha treze anos de idade. Logo em seu primeiro ano no clube – durante a disputa da Copa Luciano do Valle, que reunia jogadores sub-14 - ganhou o apelido que carrega consigo até hoje. E quem o “batizou” dessa forma foi próprio locutor esportivo, que narrava as partidas do torneio e viu no garoto uma semelhança fisionômica com o ator “Ferrugem”, que trabalhou entre os anos 70 e 90 em emissoras de televisão como a Globo e o SBT.
Desde cedo, já conseguia bastante destaque na base palmeirense. Versátil, podia atuar tanto como zagueiro quanto como volante – e, às vezes, até quebrava o galho como meia. Caracterizado pelo forte poder de marcação, possuía alguma qualidade na saída de bola, de modo que conseguiu construir uma carreira sólida nas divisões da base da seleção brasileira – que inclui um título sub-17, em 1997, na condição de capitão do time -, sendo figura constante nas convocações. Assim, não houve surpresa quando o então treinador palmeirense Luiz Felipe Scolari o promoveu, em 1998, ao time principal.
Sob o comando de Felipão, o Palmeiras viveu alguns dos anos mais gloriosos de sua história, e Ferrugem teve a oportunidade, então, de fazer parte de momentos inesquecíveis no clube. Embora não tenha conseguido se firmar como titular durante a passagem do treinador gaúcho, fez parte do elenco campeão da Copa do Brasil e da Copa Mercosul. Com apenas um ano de profissional, ele já podia comemorar duas conquistas bem importantes no currículo. Na temporada seguinte, ainda viria o título da Taça Libertadores da América.
Com um desenvolvimento consistente na carreira, em 1999, Ferrugem fez parte, ao lado de nomes como Ronaldinho Gaúcho, da seleção brasileira sub-20 que perdeu, no hexagonal final, o título do torneio para a Argentina. Pintava, naturalmente, como um jogador a ser observado com carinho pela Canarinho nos anos seguintes.
Em 2000, o Palmeiras, já sem a exitosa parceria que teve com a Parmalat na década de 90, voltaria a levantar mais dois troféus relevantes: o Torneio Rio-São Paulo e a Copa dos Campeões – ambos extintos. Com cinco títulos em dois anos e meio de clube – tendo atuado em 80 jogos, e marcado três gols - o valorizado Ferrugem entrou em litígio com a direção alviverde, na época da renovação de seu contrato, e, sem chegar a um acordo com o clube, se transferiu para o AEK, de Atenas, onde iniciou sua peregrinação por outros centros.
Longe do Palestra
Na Grécia, a passagem um tanto apagada de Ferrugem – que na maior parte do tempo que se passou no país atuou como zagueiro - ficou marcada por uma suspensão por uso da substância proibida nandrolona, flagrada na urina do jogador em um exame antidoping. Após dois anos no AEK, ele retornou ao Brasil, no ano de 2003, para defender o Atlético Mineiro.
No Galo, Ferrugem atuou na primeira edição do Campeonato Brasileiro disputada no modelo de pontos corridos, tendo ajudado seu time a alcançar um razoável sétimo lugar. Já com 23 anos, porém, deixara de ser a grande promessa do início da carreira, e, em baixa no futebol brasileiro, foi tentar a sorte no futebol francês, no modesto Ajaccio – perambulando entre a primeira e a segunda divisão do país ao longo dos quatro anos em que ficou no clube. Depois, ainda passou uma melancólica temporada 2007/2008 no Strasbourg, sendo rebaixado como vice-lanterna.
Desde 2008, Rodrigo Ferrugem defende o Jubilo Iwata, na J-League japonesa. Com 28 anos e um bom tempo “sumido” dos holofotes no Brasil, não há como não considerar o volante, outrora capitão nas seleções de base brasileiras e multicampeão com o Palmeiras, uma eterna promessa.
Ficha técnica
Nome completo: Rodrigo Lacerda Ramos
Data de nascimento: 06/10/1980
Local de nascimento: São Bernardo do Campo, São Paulo
Clubes que defendeu: Palmeiras, AEK-GRE, Atlético-MG, Ajaccio-FRA, Strasbourg-FRA e Jubilo Iwata-JAP
Seleções de base que defendeu: Brasil Sub-20, Sub-17