Em julho de 2000, a jornalista Soninha escreveu na revista Placar que
10 centímetros é quanto mede o destino: era a distância que separou o pênalti de Marcelinho Carioca nas semifinais da Libertadores da América contra o Palmeiras do sucesso e do fracasso de um trabalho. Marcelinho perdeu o pênalti – coisa rara na carreira – o Palmeiras seguiu na Libertadores e o Corinthians foi desclassificado.
Dez centímetros. Dez centímetros para lá ou para cá podem mudar o rumo de uma partida e de todo um campeonato. Imaginem que no último
Avaí versus Náutico a barreira do time nordestino tivesse subido mais dez centímetros interceptando a bola ou, ainda, se a bola batida por Eltinho tivesse ido mais dez centímetros para a direita, saindo da direção do gol. Ou, se o lançamento de Léo Gago, aos 44 do segundo tempo tivesse saído só um pouquinho mais forte e a bola caísse só 10 centímetros mais a frente de Marquinhos, o impedindo de bater de bate-pronto da forma que bateu.
Todas essas situações, tanto a de Eltinho quanto a de Marquinhos seriam situações
perfeitamente possíveis, perdoáveis até. E a história – sempre escrita pelos vencedores ou por quem detém o poder da imprensa – seria totalmente diferente. O Avaí perderia sua invencibilidade em plena Ressacada contra um “adversário direto” na luta contra o rebaixamento.
Imaginem a festa da
imprensa marrom que atua em Florianópolis: Avaí rompe ciclo e começa a decair, sucumbindo diante da superioridade do adversário. William não teria condições de vestir a camisa do Avaí. O estilo Silas estaria condenado ao fracasso, repetitivo e previsível. Marquinhos precisaria de um banco, não joga nada faz tempo. Só Medina salvará. Como um time espera se manter na primeira divisão com atletas oriundos do Mirassol? Emerson Buck está sobrecarregando o time, que apresentou um rendimento pior ao fim da maratona de jogos.
O diagnóstico do primeiro turno inteiro, o titulo do catarinense, a avaliação das carreiras de todos os profissionais envolvidos e os prognósticos sobre o futuro do time no segundo turno seriam outros.
Miguel Livramento sempre diz que o discurso do técnico vencedor após a partida é sempre diferente do técnico perdedor.
O folclórico comentarista apenas esquece de dizer que além do discurso dos técnicos há outro, muito importante, que todos os profissionais avaianos, de Marquinhos a Zunino, estão sujeitos diariamente:
o discurso de uma parcela da imprensa parcial e comprometida com interesses outros que não a ética profissional, embora alguns sejam apenas
incompetentes,
adivinhadores fajutos e
palpiteiros que lançam um “eu já sabia” depois do fato consumado.
Marquinhos não joga nada há muitas rodadas, não é o mesmo da série B do ano passado, ao contrário do craque Fernandes. Martini é um bom goleiro, mas não é melhor que Wilson. Os melhores jogadores do Avaí estão de saída para o exterior, Cruz Alta, Cruz das Almas, Cruz Credo, alguma coisa assim já ta acertando a compra de Léo Gago. Silas está de saída, precisa ir para um time maior. O Avaí está invicto há nove rodadas, mas crack nem pensar, reage, Figueira!
Nesta semana, os muros pichados do Scarpelli renderam algumas fotos. Quando os portões da Ressacada foram pichados eram entrevistas e mais entrevistas batendo na mesma tecla, instigando os jogadores a se indignarem. Quando Wendel e Cocito distribuíram coices no treino, foto de capa. Quando jogadores alvinegrosesverdeadosrosa trocaram socos dentro de vestiário, o silêncio.
Esta semana houve um novo caso de violência que quase chegou a violência física entre jogadores de um time de vestido, quantas linhas vimos nos jornais? O Avaí lutou sozinho, dentro do campo, para fugir do rebaixamento em 2007 e com quem ele pode contar?
Com sua torcida e só com ela. Sem campanha ou palavras de ordem.
Há quem critique que sempre que algo ruim acontece jogamos a culpa na imprensa. Há quem queira ridicularizar as críticas chamando-as de
teoria de conspiração, xororô ou qualquer coisa que o valha. Mas, pensando bem, jornalista que recebe trabalho pronto direto da assessoria de imprensa de clube de futebol a culpa é de quem? Jornalista cuja empresa em que trabalha não trata de assuntos que podem ser inconvenientes a clube com que assinou contrato a culpa é de quem? Jornalista que trabalha em empresa que foi favorável a janelas e conquistas em tapetão, em nome do "bem do futebol catarinense" a culpa é de quem?
Como equilibristas que atravessam prédios se equilibrando, nossos heróis vivem numa corda bamba. Obrigado, Marquinhos, Eltinho, Léo Gago, Silas, Emerson, William, Augusto e demais jogadores e comissão técnica, todos salvos da imprensa marrom há nove rodadas, por 10 centímetros.
(Fotos: Flávio Neves).